Como podemos educar para a vida?
- iaraurbani
- 6 de ago. de 2021
- 4 min de leitura
A educação para a vida é um trunfo indispensável para que a humanidade caminhe rumo a um ambiente socioemocional mais saudável. O escritor, psicanalista e educador Rubem Alves foi um grande propagador dos quatro pilares da educação propostos para a Unesco por Delors. Seu estudo defende que há quatro estímulos sobre os quais todo o aprendizado transcorre.
Aprender a Conhecer
O primeiro é o Aprender a Conhecer, em que, a partir da motivação, devemos valorizar a curiosidade do aluno e a sua abertura para o conhecimento.
Aprender a Fazer
O segundo é o Aprender a Fazer, pois, é com a experiência e a prática que tornamos a aprendizagem mais significativa e, a partir disso, mostra-se a coragem de errar, mesmo na busca de acertar.
Aprender a Conviver
Posteriormente temos o Aprender a Conviver, multiplicando os Neurônios-Espelho, que são os neurônios especializados em colocar-nos no lugar do outro, fortalecendo a empatia e respeito.
Aprender a Ser
E, por último, Aprender a Ser, que talvez seja o mais importante. Aprender a Ser explicita o papel do cidadão e o objetivo de viver, relacionado nas neurociências à maturação cerebral, responsável pela capacidade de autorregulação e controle de conduta.

Investir no SER é evidenciar a maturidade, iniciativa, criatividade, perseverança. Nesse caso, não se refere somente à educação escolar, mas à educação em todas as idades e esferas, no sentido de educar-se conhecendo os limites e fortalezas pessoais para desenvolver a saúde mental.
Outro autor que gosto de trazer para essa conversa sobre Educação Para a Vida é Augusto Cury. Além de psiquiatra, psicoterapeuta, cientista e escritor, é autor da “Teoria da Inteligência Multifocal” e um dos criadores do “Programa Escola da Inteligência”. Essa é uma metodologia que visa preparar os alunos para os desafios da vida, buscando a formação de pensadores, promovendo a educação da emoção e desenvolvimento da inteligência.
Diversas escolas do Brasil aplicam esse programa, que reconhece que ninguém é tão importante como os professores no teatro social, embora a débil sociedade não lhes dê o status que merecem. Professores, e também os pais e responsáveis, por meio de seus gestos e palavras, mudam o mundo quando mudam a história de uma criança ou de um jovem. Cury afirma também que:
Pacificar a mente de nossos filhos e alunos é acalmá-los quando estão desesperados, abrandá-los em momentos de estresse ou birra e, acima de tudo, levá-los a enfrentar fantasmas mentais, a impugnar medos, gerenciar a ansiedade, administrar as perdas e frustrações. [...] Quando caírem na vida, deixarem as asas dos pais, não terão anticorpos emocionais para suportar crises, conflitos, competição predatória, percalços da existência.
Seguindo a linha de pensamento de Cury, educar não é modificar a mente dos educandos, mas levá-los a pensar antes de agir. Não é adestrar o cérebro deles, mas levá-los a desenvolver a consciência crítica. A educação não é cobrar demais, mas conduzi-los a ter autonomia. Não é superproteger, mas estimulá-los a trabalhar perdas e frustrações. E, por fim, não é dar broncas ou puni-los, mas levá-los a ter autocontrole e colocar-se no lugar do outro.
Ou seja, somos responsáveis por educar promovendo a capacidade de gestão da emoção de crianças e jovens para que sejam:
mais seguros e estáveis;
capazes de aplaudir a vida e não reclamar de tudo e de todos;
que recebam o cuidado da prevenção de transtornos emocionais, violência e incapacidade de administrar a própria vida pessoal e profissional.
Nesse mesmo sentido, recomendo o artigo “Educação Emocional — Ensinando crianças a expressar seu mundo interior”. Ele foi escrito pela arte-educadora e arteterapeuta norte-americana, Susan Bello, PhD em Terapias Expressivas. Nesse artigo ela defende que os educadores precisam aprender como trabalhar com o “ser integral” — sendo ele o corpo, a mente e o espírito.
Há uma enorme diferença entre educar para conseguir um emprego produtivo e educar para ajudar as pessoas a crescerem como seres humanos. A violência que presenciamos atualmente em escolas, representa uma reação à falta base humana conectada a algo que proporcione um significado de vida mais profundo.
Mas para trabalhar com as crianças nós, adultos, precisamos despertar a nossa própria energia criativa e estar em sintonia com todo este propósito. Devemos observar como reagimos e lidamos com as intempéries das emoções e como passamos esses ensinamentos para os que nos observam. Devemos conversar sobre as nossas debilidades e exemplos de dificuldades e de superações.
A boa notícia é que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que define as principais diretrizes da educação básica de todo o Brasil, passou, em 2017, a estabelecer 10 competências gerais que deverão ser trabalhadas com os alunos desde a educação infantil até o ensino médio. Cada competência geral ganhou um título que sintetiza a essência dos conhecimentos, habilidades, atitudes e valores que se busca desenvolver nos alunos. São eles:
Conhecimento;
Pensamento científico, crítico e criativo;
Repertório cultural;
Comunicação;
Cultura digital;
Trabalho e projeto de vida;
Argumentação;
Autoconhecimento e autocuidado;
Empatia e cooperação; e
Responsabilidade e cidadania.
Na Competência “Autoconhecimento e Cuidado”, por exemplo, a escola precisa elaborar projetos para que o aluno possa:
“Conhecer-se, compreender-se na diversidade humana e apreciar-se, cuidando da sua saúde física e emocional, reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas” (BNCC, 2017).
O objetivo dessas mudanças na BNCC é transformar a educação para que as escolas deixem de ser apenas transmissoras de conteúdos e passem a auxiliar o estudante a lidar com questões de cunho emocional, cultural, tecnológico, socioambiental, de responsabilidade, entre outras. Além disso, busca-se que os espaços escolar e familiar potencializem o ser pensante e criativo.
E, sim, acredito que todos os pais, responsáveis e educadores saibam das limitações e dificuldades para implantar e conduzir tais abordagens. Por outro lado, este é um novo olhar e um primeiro passo para que a escola trabalhe o indivíduo por inteiro. Um indivíduo com dificuldades, competências e emoções, e que os ambientes familiar e escolar passem a ter acolhimento para falar de sentimentos.
Ou seja, o esforço para a aplicação dessas competências não deve partir somente das instituições de ensino, mas envolver toda a sociedade. Deve partir do nosso cotidiano caseiro e se espalhar pela sociedade.
Se você não sabe exatamente o que fazer para conduzir os pequenos pelo caminho da real Educação Para a Vida, conta comigo. Posso ajudar com a Arteterapia e também com as Oficinas de Criatividade.
Vamos lá?!
Comentarios